Tereza era moça de bem. Casou-se virgem. Era extremamente romântica e nunca olhou nem desejou outro homem que senão o seu marido. Queria a felicidade e ao casar-se com José, acreditou tê-la encontrado. E de fato encontrou. José era um excelente marido. Em todos os aspectos. Bom, carinhoso e educado. Nunca levantou a voz para ela. Tereza o amava mais do que tudo. E a recíproca era verdadeira. Passaram-se os anos e a felicidade só aumentava.

Sucesso no trabalho. José conseguiu uma promoção no escritório no qual trabalhava como vendedor de apólices de seguro. Tereza era professora e era muito elogiada e querida por seus alunos e pelas mães dos mesmos.

Sucesso no amor. A cada ano que passava, o relacionamento esquentava mais. Eram muito felizes na cama. Davam-se muito bem e entendiam-se como ninguém. Um casamento perfeito.

Um dia, Tereza acordou grávida. Ficou feliz e comemorou com José a noticia. Era um filho desejado. Muito amado. A felicidade que já existia se multiplicou.

Alguns meses depois, nasceu o filho tão esperado. Foi chamado de Moisés, em homenagem ao libertador dos hebreus do domínio egípcio. Tereza sentia que aquela criança teria um destino diferente. Especial. Seria como um profeta, como fora o Moisés bíblico. Tereza tinha certeza, mas ainda assim decidiu confirmar sua suspeita com uma cartomante. Foi até ao local onde dava consulta uma cigana e levou consigo o seu bebê, enrolado numa manta. A cartomante ao olhar Moisés, nem sequer quis jogar as cartas. Foi tomada por um pânico sem nome, algo que ela nunca sentira antes. (E olha que ela estava bem acostumada a lidar com coisas do arco da velha…). Tereza não entendeu o porquê da recusa da cartomante de jogar as cartas.

– Tenho o direito! Jogue as cartas!

– Não é preciso! Já dá pra ver que essa criança é diferente…

– Jogue, por favor! Preciso de uma confirmação dos céus!

E a cartomante jogou. Muita atenção. Ela, que jogava cartas, lia mãos e ainda via o futuro em bolas de cristal já há mais de dez anos, estava naquele momento suando frio diante daquele bebê. Moisés a intimidava.

– E então? O que dizem as cartas? – perguntou, curiosa, Tereza.

A cartomante estremeceu.

– As cartas não mentem. – constatou, aterrorizada, a Cartomante.

– Mas e então? O que elas dizem sobre o meu Moisés?

– Ele vai ser a sua desgraça. O seu fim. Você não pode ficar com ele! Livre-se dessa criança!

Tereza pagou à cartomante e se retirou. Foi caminhando pela rua, observando o seu filho. Moisés estava dormindo, calmamente. Era um bebê lindo. Como poderia ser a destruição de alguém? Tereza pensou e repensou. Ficou observando o seu lindo bebê.

– Não, você não vai ser a minha destruição! Vai ser a minha salvação! Eu te amo, meu filho!

De repente, viu que um caminhão se aproximava. Não deu tempo de pensar em nada. O caminhão não conseguiu freiar. Tereza não resistiu ao impacto e caiu, ensangüentada no chão, morta, enrolada com o seu bebê. O motorista do caminhão ao chegar perto do corpo de Tereza, observou que havia uma criança junto do corpo da mulher. Era Moisés. Vivo. Sem um arranhão. Sorrindo para o motorista do caminhão.